Um hotel, uma mesa, um casal: o renascimento do sabor em Saint-Hilaire-d’Ozilhan

No coração da tranquila vila de Saint-Hilaire-d’Ozilhan, entre Uzès e a Pont du Gard, esconde-se um endereço sussurrado entre iniciados: o La Belle Vie Hôtel-Restaurant.
Por trás das fachadas douradas de uma antiga casa burguesa, revela-se um jardim secreto — um parque arborizado, pontuado por caminhos de pedra, recantos sombreados e uma ampla piscina aquecida.

O hotel conta com 11 quartos e suítes, todos espaçosos, iluminados e voltados para a natureza.
Madeira clara, linho, pedra e tons suaves criam uma atmosfera em que a sobriedade encontra a elegância contemporânea.
Aqui, o tempo desacelera. Casais, famílias e epicuristas vêm para saborear um estilo de vida simples e ensolarado, o do autêntico Sul da França.

Um duo cúmplice à frente do La Belle Vie

À frente da casa, Joana e Denis Martin formam um duo harmonioso, unidos na vida e no trabalho.
Ela, Joana, cuida do hotel com atenção delicada, sorriso sincero e um senso inato de acolhimento.
Ele, Denis Martin, assina uma gastronomia autoral, ao mesmo tempo depurada, expressiva e profundamente ligada ao terroir.

Juntos, cultivam o espírito do La Belle Vie: um lugar vivo, elegante, de dimensão humana, onde cada detalhe — da decoração ao prato — conta uma mesma história de paixão e sinceridade.

A mesa de Denis Martin: autenticidade, emoção e terroir

Formado ao lado de grandes nomes, Denis Martin reivindica hoje uma culinária clara e verdadeira, longe dos modismos.
Seu menu, inspirado no terroir provençal, evolui conforme as estações e celebra os produtos locais: ervas aromáticas, legumes da horta, peixes do Mediterrâneo e carnes do Gard.

No meu jantar, Denis Martin ofereceu uma verdadeira viagem sensorial, ao mesmo tempo precisa e inspirada.
Cada prato segue uma coerência rara, onde a técnica jamais se sobrepõe à emoção.

A lagostim na churrasqueira surge como um dos pontos altos: carne perfeitamente nacarada, caldo cremoso das carapaças acariciando o paladar, e o creme de azedinha trazendo uma acidez verde que renova a degustação.

La Belle Vie

O universo terroso dos cogumelos — cèpes e girolles em mousseline — com alcachofra e aipo assados na manteiga noisette, revela uma compreensão profunda do vegetal: uma cozinha que respira terra e paciência.

O rouget de roche ao vinagre de flor de sabugueiro, sustentado por um caldo de espinhas reduzido ao essencial, surpreende pela precisão. Nada é deixado ao acaso: o cozimento plano preserva a textura do peixe, o vinagre floral adiciona a tensão exata.

Por fim, o boi Salers assado encerra a partitura em uma nota carnal, suavizada pelo prensado de butternut e pela mousseline de abóbora japonesa com verbena — sutil e envolvente.

La Belle Vie

Um chef enraizado na Provença

Nascido em Avignon, Denis Martin construiu seu percurso ao lado de Bruno d’Angelis, Fabien Fage, Glenn Viel e até Daniel Boulud, em Montreal.
Em 2019, conquistou uma estrela Michelin no restaurante The Marcel, em Sète, antes de escolher, em 2023, retornar à Provença para escrever sua própria história.
No La Belle Vie, ele expressa agora sua visão mais pessoal: uma cozinha de memória, emoção e território.

Entrevista com o chefe Denis Martin 

Qual experiência mais marcou sua visão de cozinha?


“Cada chef me ensinou algo. Mas quem realmente me marcou foi Michel Kayser, aqui no Gard. Ele me transmitiu a ideia de uma cozinha enraizada no território, orgulhosa de seus produtores e suas raízes. O que ele realizou em uma pequena vila é admirável. É exatamente essa filosofia que busco no La Belle Vie.”

Você e sua esposa, Joana, formam um duo cúmplice. Como trabalham juntos?


“Nós nos conhecemos no Prieuré, em Villeneuve-lès-Avignon. É bonito, porque crescemos juntos, pessoal e profissionalmente. É a primeira vez que trabalhamos juntos! Cada um tem seu domínio — eu na cozinha, ela na hotelaria — mas tudo é feito em conjunto, com respeito e confiança. Compartilhamos a mesma visão e as mesmas exigências, e isso faz nossa força.”

Depois de tantas experiências, por que voltar à Provença?


“Depois do Canadá, sentimos vontade de voltar às raízes. Nossos filhos crescem, nossos desejos mudam… Queríamos concretizar tudo o que aprendemos, mas do nosso jeito. Aqui tudo faz sentido: a terra, os produtores, o jardim, o ritmo. É um retorno ao essencial, em um ambiente que nos representa.”

Como você define sua identidade culinária hoje?


“Minha cozinha é baseada no produto.
Sabemos o que estamos comendo, nada é escondido.
Muita gente diz que é ‘feminina’ — eu diria sutil e equilibrada.
Gosto de sabores iodados, cozimentos precisos, caldos claros.
Trabalhamos com ultra proximidade: meu açougueiro está a 500 metros, meus horticultores a 4 km.
E até nossos pratos são feitos à mão por uma ceramista de Sète.
É uma cozinha de respeito, de vínculo, de sinceridade.”

O que você deseja contar através de seus pratos?


“Quero contar a história dos homens e mulheres que fazem este território viver.
Por trás de cada prato há um produtor, um gesto, uma emoção.
Se nossos clientes forem embora felizes, com um sorriso, ganhamos o dia.
La Belle Vie não é apenas um nome: é uma promessa de simplicidade e felicidade.”

Quais são seus projetos para o futuro?


“Nosso objetivo a curto prazo é conquistar uma estrela aqui, no campo. É um símbolo forte, uma bandeira para nossa região. Depois, queremos enriquecer a experiência: criar um espaço de bem-estar, oferecer aulas de culinária, desenvolver uma adega maior. Queremos que cada estadia seja completa, entre prazer, partilha e serenidade.”

No La Belle Vie, vem-se tanto para recarregar as energias quanto para se deliciar. Pela manhã, o canto dos pássaros acompanha o café da manhã. Ao meio-dia, a luz dourada filtra entre os plátanos. À noite, as velas se acendem, os copos tilintam e o silêncio do jardim envolve os convidados.
Um lugar de equilíbrio, doçura e verdade — à imagem daqueles que o fazem viver.

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