Um piquenique aristocrático na selva… com altar, santos e espírito de rebelião

Na visão singular e teatral de Maryam Mahdavi, nada é feito por acaso — nem mesmo uma mesa de jantar. Para sua performance criada para a PariSabor a designer e artista franco-iraniana imagina um piquenique tropical e aristocrático em plena selva brasileira.

Maryam Mahdavi

Mas atenção: esqueça o romantismo colonial. Aqui, a selva é uma instalação visual, sensual e subversiva. Um cenário onde Maria Antonieta, moda de alta-costura e rituais espirituais se encontram em um caos poético.

“É um piquenique na selva, mas com tudo o que amo: os códigos da aristocracia misturados ao nonsense total. É sexy, é rock, é barulhento, e ainda assim, cheio de referências culturais profundas.”

Uma mesa como uma missa barroca

Maryam Mahdavi

Na foto feita para o nosso  editorial, Maryam monta uma mesa que parece um altar. Estátuas de santos católicos em porcelana pintada, velas coloridas, cálices de metal, pratarias e objetos kitsch convivem com pratos de porcelana decorados com animais selvagens — tigres, leopardos, leões. Tudo parece saído de uma visão surrealista. As taças são descombinadas. Os talheres, às vezes, escondidos — como se estivessem em uma caça ao tesouro. Corujas de latão pousam sobre os pratos como amuletos. Há candelabros de cristal, tampas de prata e tecidos sobrepostos como mantos cerimoniais.

“Eu conheço os códigos da etiqueta, os códigos da arte, da moda, da decoração… Mas eu gosto de quebrar todos eles. Só se pode quebrar uma regra quando se entende perfeitamente como ela funciona.”

Do palácio ao acampamento, com espírito nômade e dramático

Maryam Mahdavi cresceu entre o glamour diplomático e a estética persa. Filha do embaixador do Irã na França, foi educada no refinamento extremo. Estudou na ESMOD, depois na École du Louvre. Criou lingerie para a marca Princesse Tam-Tam antes de se dedicar ao design de interiores e à cenografia.

Hoje, ela mistura tudo: objetos sagrados, referências de moda, tapeçarias históricas, peças de antiquário e relíquias religiosas — como se tivesse montado uma performance entre uma caravana oriental e um jantar de Estado.

“Se eu tivesse que fugir, eu fugiria com meus camelos, minhas oferendas, minhas taças de Baccarat, minhas porcelanas do século XVIII, e faria um piquenique decadente no meio da selva. Só que com estilo! Eu sou uma nômade aristocrática.”

Nada é apenas decorativo: tudo tem um papel

Cada objeto é colocado como em um palco. A luz, a composição, os volumes e até os vazios são coreografados com precisão. A mesa não é apenas um espaço para comer — é um cenário vivo.

“É tudo uma performance. Eu penso como se fosse cinema: há roteiro, personagens, mise-en-scène, iluminação. Uma espécie de orgia estética entre Maria Antonieta, ‘Out of Africa’, e um desfile de moda tribal. Tudo ao mesmo tempo.”

Maryam não acredita na “decoração” como conceito superficial. Para ela, vestir uma casa é como compor um figurino. O luxo não está nos objetos caros, mas na forma como se criam contrastes. Misturar tapeçarias imperiais com achados de brechó, alta-costura com peças de dois euros.

Os códigos? Ela os tem todos. E os reinventa com irreverência

“As pessoas não entendem os códigos porque nunca os viveram. Eu vivi. Eu posso misturar prata com plástico e ainda assim contar uma história coerente. Porque a história está em mim.”

Maryam colabora com marcas como Codimat (tapetes), Ressource (cores e tintas), e desenvolve peças únicas a partir de arquivos históricos — como os tapetes inspirados nos salões de Maria Antonieta.

Em seu showroom parisiense Le Royale, cada ambiente é uma provocação visual. Um conto barroco para os sentidos.

Maryam Mahdavi não serve refeições. Ela serve experiências.
Ela não monta mesas. Ela dirige peças.
Ela não decora. Ela dramatiza.

Sua mesa é uma revolução sensual, uma missa pagã, uma fantasia onde o kitsch, o culto, o poder e a poesia coexistem.

Se você for convidado, prepare-se. Os outros convidados podem ser um leão, um tigre ou uma coruja com olhos de rubi. Porque os humanos, segundo Maryam, “estão ficando muito chatos”.

 

Fotos : Phineas PARIS PHOTOGRAPHER

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