Você já ouviu falar do Trou Normand? Então vem comigo que eu te conto tudo!
Se você fala francês, já ficou confuso com o nome. Trou Normand significa, literalmente, buraco normando. E tem uma razão para o nome! Se trata de um digestivo servido ao longo de refeições longas e com pratos numerosos com o objetivo de facilitar a digestão, cavando um “buraco” no estômago.
É um nome que vai direto ao ponto e não soa lá muito fino para os ouvidos brasileiros, mas por trás dele tem uma rica história do Trou Normand – cujo ingrediente principal é o Calvados, uma aguardente de maçã produzida na Normandia.
Aperitivos x digestivos
Este é um adendo que eu vou fazer porque nem todo mundo sabe. O aperitivo vem antes da refeição, enquanto o digestivo vem durante ou depois. São normalmente bebidas alcoólicas que facilitam a digestão. Podem ser vermute, champagne, pastis e o Trou Normand…
A história super interessante do Calvados

Calvados não é um nome originalmente francês. Ele deriva de El Calvados, um navio da Armada Espanhola que naufragou na costa da Normandia em 1558. A costa perto do acidente ganhou o seu nome e, quatro séculos depois, o mesmo aconteceu com a aguardente (ou rum).
Quanto às maçãs, o ingrediente principal, elas têm crescido na região desde a antes da chegada das pessoas na Normandia e na Bretanha. Os romanos as cultivaram e provavelmente começaram a destilar o seu suco. A cidra era conhecida já na época do imperador Carlos Magno, e há muito tempo é uma bebida tradicional do Oeste da França. (Às vezes a gente até esquece que tem história antes da Revolução Francesa, né?)
O primeiro registro de destilado de maçã sendo feito foi de um senhor Gilles de Gouberville, que destilou cidra em 1553. O nome Calvados só ganhou tração no século XIX. A bebida era produto de uma indústria caseira até a Primeira Guerra Mundial, quando soldados da Normadia e da Bretanha levavam garrafas de casa para o front. Mais tarde, quando esses homens migraram para Paris, a bebida caiu no gosto da classe trabalhadora, substituindo o rum e o conhaque baratos.
Após a guerra, o Institut National des Appellations d’Origine (aquele mesmo que controla os nomes e as origens dos vinhos) estabeleceu regras para o Calvados. A população ficou conhecendo a bebida nos bares. Mais tarde, ele se popularizou como a maioria dos outros conhaques: como uma bebida para depois do jantar. Mas o Calvados tem o seu uso especial, o Trou Normand, o buraco normando! Consiste em um trago durante uma refeição muito longa para abrir espaço para o que vem pela frente.
O Trou Normand Moderno

As refeições hoje em dia são mais leves, então não há muitas desculpas para o Trou Normand. Por isso o digestivo teve que se reinventar para manter sua relevância.
Para quem prefere ingerir álcool de forma suave e lenta, há também a popular opção de servir o Trou Normand com um pouco de sorvete. O mais popular é o sabor de maçã, para se manter no tema. O calvados é despejado em cima de duas pequenas bolas de sorvete e servido para os convidados depois de um prato de carne.
Há também quem sirva o Trou Normand com outros tipos de destilados, que foi o que eu fiz no dia que recebi alguns amigos em casa logo quando o confinamento acabou aqui na França. Eu usei o sorvete de maçã mas meu o álcool destilado de escolha foi a vodka, a “versão Russa” do digestivo. Ela é menos doce e faz o serviço de digestivo igualzinho!
Não é só uma questão de “abrir espaço” para o próximo prato. Nessa ocasião, por exemplo, foi uma maneira super leve e divertida de fazer uma pausa consciente na refeição. Eu adoro entreter meus convidados e foi a desculpa perfeita para servir o Trou Normand!
Dica: tem uma sobremesa que fica no meio termo disso tudo, a Coupe Colonel. São duas bolas de sorvete de limão servidas com vodka. Bom também, né?

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Janaina de Macedo, uma personalidade franco-brasileira apaixonada por gastronomia, é uma figura proeminente em Paris há mais de duas décadas. Sua jornada começou há 23 anos, quando decidiu mudar-se para a Cidade Luz. Com uma formação em Gastronomia pelo CAP en Cuisine, Janaina também se especializou no Savoir-Vivre à la Française, o conhecimento refinado dos hábitos e etiquetas francesas.
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Janaina de Macedo
